Seminário em formato de roda de conversa marca lançamento do livro em Comunicação e Saúde no PPGSC

Nesta última terça-feira (04), no campus de Maruípe da UFES no auditório do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva (PPGSC), ocorreu uma roda de conversa para o lançamento do livro “Somos todos atingidos: comunicação em tempos de emergência em saúde pública”. O evento contou com a presença dos convidados: o Prof. Carlos Eduardo Siqueira (UMASS/Boston), Paola Primo (Proex/UFES), Michele Nacif Antunes, pesquisadora em Comunicação e Saúde, Rayanne Rocha, do Coletivo Muca e o Prof. Adauto Emmerich (PPGSC/UFES), que atuou como coordenador da roda.

 O tema centralizador do debate foi sobre como somos marcados por emergências cada vez mais frequentes que fazem parte do nosso cotidiano e atropelam nossas vivências. Não é somente sobre o desastre ambiental em Mariana e Brumadinho ou sobre as epidemias do zika vírus e da covid-19. É sobre uma sequência de emergências que irão continuar a ocorrer e que afetam vítimas todos os dias. As consequências das emergências perduram e se acumulam. Por isso, os convidados para o debate propuseram reflexões fundamentais ao tratar do livro.

O evento de divulgação do livro “Somos todos atingidos” se iniciou com uma fala do professor Adauto Emmerich a respeito da obra, ilustrada em uma frase de Mia Couto, escritor e biólogo moçambicano,  sobre a necessidade em se ter dúvidas e fazer perguntas. Tal declaração se articula com o livro que serve de registro de memória de graves desastres ambientais que ocorreram no Brasil onde os moradores diretamente atingidos questionavam as autoridades a respeito das consequências que esses supostos acidentes trouxeram e se indagavam sobre a periodicidade que esses eventos ocorriam, o que revela que são repetitivos e marcados por um descaso do governo com o meio ambiente e com a população. A obra foi brevemente introduzida pelo professor Adauto, que abriu espaço para que os outros componentes da mesa se apresentassem e falassem de seus trabalhos e de suas participações no livro.

Rayanne Rocha do coletivo Muca, projeto social liderado por mulheres que auxilia pessoas em condição de vulnerabilidade social na Grande Vitória, fez um depoimento marcante sobre as atividades do coletivo para auxílio da comunidade em informações e cestas básicas para a sobrevivência durante a pandemia da covid-19 e como a ajuda partiu da comunidade pela comunidade, para mais de 350 famílias com a ajuda de doações, com raros auxílios institucionais.

Essas experiências ressaltam a importância da Universidade de incluir a comunidade no desenvolvimento de metodologias para prevenir desastres, de monitoramento de notícias e combate as fake news, por exemplo, para uma construção positiva conjunta. Paola Primo, nesse sentido, uma das organizadoras do livro, pontuou sobre a iniciativa de fazer um sistema que atue como catalizador de fontes fidedignas sobre os desastres para o acesso da população, como o já sistema em desenvolvimento em sua pesquisa de Doutorado, o SigDesastre.

A pesquisadora e também organizadora do livro, Michele Nacif, ressaltou como surgiu a ideia do livro, em 2018, a partir de um seminário capixaba em Comunicação & Saúde organizado pela UFES, com participação de pesquisadores e representantes populares atingidos pelo desastre em Mariana. Nesse momento o Professor Adauto reiterou a importância da internacionalização na universidade e entre pesquisadores, e a intenção era não perder a capacidade de se perguntar por quê somos atingidos, e principalmente por quê alguns de nós são mais atingidos que outros. Foi reforçado, dessa forma, como somos todos diariamente atingidos, em menor ou maior grau, daí que vem o nome do livro, e como devemos nos movimentar para o auxílio de quem é mais atingido além de cobrar dessas empresas recompor perdas humanas.

Michele Nacif também e propôs uma reflexão sobre o conceito "comunicação rizomática", no sentido de que há várias formas de se comunicar um problema, não há um centro específico de atenção. Assim, a função de coletivos, por exemplo, não se limita a um papel periférico em detrimento de fontes oficiais, são relações que se articulam e que se tornam tão importantes quanto outras fontes de credibilidade.

O professor convidado Carlos Eduardo Siqueira, aposentado pela University of Massachusetts, relatou sobre a situação dos Estados Unidos durante a pandemia da Covid-19 e como o negacionismo (fortemente presente no Brasil durante o governo Bolsonaro) se revelou como um imenso empecilho para o avanço da ciência no país, que apresentou movimentos anti-vacinas e muitas notícias falsas. De acordo com o professor, a comunicação do país vinha em uma relação totalmente vertical do presidente para os cidadãos, sem espaço para questionamentos ou esclarecimentos. Isso levou ao descontentamento de parte da população e à busca de uma comunicação rizomática, em que a comunidade e a academia são uma só e dialogam entre si com respeito e esclarecimento. 

O prof. Carlos Eduardo Siqueira relatou ainda que suas pesquisas são movidas pela indignação que essas emergências o fazem sentir e ressaltou a importância da troca de conhecimento entre as comunidades atingidas e a ciência feita pela academia. Sem essa troca, a ciência é incompleta e não conseguirá o seu objetivo que é propor medidas concretas de melhorias para a população.

Interligado a isso, o professor Adauto trouxe para reflexão a articulação entre as comunidades e coletivos populares durante a pandemia para entenderem os dados repassados pelo governo estadual, uma vez que essa comunicação estava acontecendo verticalmente, e não rizomaticamente. Esses dados supunham uma sociedade totalmente homogênea em sua análise, o que não ocorre na realidade. Dessa maneira, a própria população se reuniu para interpretarem, investigarem e comprovarem o que estava sendo passado para elas. Isso revela o quanto que, tanto em casos de doenças epidemiológicas quanto em desastres de mineradoras, toda a sociedade é atingida e precisa se reunir para terem seus direitos cumpridos e assegurados.

Nas suas falas, portanto, os palestrantes destacaram a importância da comunicação em tempos de emergências em saúde pública, citando o desastre crime em Mariana, o desastre crime em Brumadinho, surtos de doenças como o zika vírus e a própria pandemia da covid. Falaram também sobre como o livro “Somos todos atingidos” trata de registrar uma memória, trazendo representatividade por meio da voz dos atingidos.

Após toda a fala da mesa, o diálogo foi aberto para perguntas dos espectadores. Foi um evento edificante e de extrema relevância para se pensar o descaso governamental e a união entre os cidadãos diante de negligências das autoridades. O evento contou com um público abrangente de estudantes e pesquisadores da área ambiental, da comunicação e da saúde coletiva.

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