Além da redação do ENEM: pesquisa revela como as mulheres são invisibilizadas por meio da desigualdade de gênero

O estudo realizado na Ufes revelou como pensam os autores de violência doméstica e como a desigualdade de gênero é fator determinante para o aumento de casos de agressão contra mulheres

A pesquisa utilizou de entrevistas com 20 homens autores de violência, encaminhados ao serviço da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, nos municípios de Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica. Devido à pandemia, as entrevistas foram realizadas por ligação telefônica.

Fatores de risco foram identificados como os de maiores probabilidades de uma mulher ser vítima de agressão. O mais evidente é o ciúmes. Cerca de 45% dos entrevistados responderam que foram motivados a cometer as agressões por ciúmes próprio ou por ciúmes por parte da parceira. 

Os outros fatores de risco são a raça, a classe social e a orientação sexual. Esse reconhecimento de fatores se deu com as entrevistas e por meio da análise das notificações de violência que alimentam o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Essas notificações são realizadas por todo serviço de saúde pública e privada e por alguns serviços das áreas da educação.

A figura feminina voltada para a atuação dos cuidados

O estudo destaca uma realidade que também foi debatida por milhões de estudantes durante a redação do ENEM: ainda é predominante no dia a dia o reforço do padrão que traz a mulher como a adequada para a atuação dos cuidados. Além disso, preservar valores que geram a desigualdade de gênero, isto é, difundir as diferenças entre homens e mulheres, está diretamente ligado às causas de violência doméstica contra as mulheres.

Foi apontado que, em uma sociedade em que a mulher culturalmente assume o papel dos cuidados com o lar e com os filhos, a tendência é que ela receba um salário muito menor que o homem. Já eles são vistos como os provedores da família, mais bem habilitados para assumirem cargos de chefia. 

As entrevistas mostraram que, para os indivíduos causadores da violência doméstica, ser homem significa: ser heterossexual, não demonstrar afeto a outros homens, ser o provedor da casa, trabalhador, honesto, bom pai e fiel. Além disso, na visão deles, o homem deve cuidar e oferecer segurança à família, além de ter boa condição financeira e bom nível escolar. 

Já ser mulher, para os agressores significa: ser afetuosa, carinhosa, companheira, fiel e respeitosa. Ter diálogo, postura e não impedir o homem de realizar as vontades dele. Não ser vulgar e conflituosa, não sair sozinha para seu lazer e não se vender por dinheiro. Por último, uma mulher não deve trocar de gênero. Assim, na opinião dos agressores, se não se encaixarem dentro desses requisitos, elas são desconsideradas como parceiras.

A pesquisa também relacionou as respostas dos homens com a realidade vivenciada por muitas mulheres. A percepção deles em casa não é diferente da vida no trabalho. As mulheres ainda são vistas e mais selecionadas para vagas de empregos voltadas para cuidados e assistências. 

A desigualdade de gênero, ou seja, a ideia de que as mulheres são inferiores aos homens, é um problema grave enfrentado pela população feminina do Brasil, o que agrava à violência contra elas. Para o estudo, as narrativas dos agressores confirmam, justamente, esse cenário repleto de desigualdades entre homens e mulheres e seus resultados que, muitas vezes, tornam as mulheres invisíveis para determinados cargos no ambiente de trabalho e, ainda, podem ser fatais no ambiente doméstico. 

Modificar essas construções de pensamento e significados por meio da educação é um dos caminhos considerados pela pesquisa capazes de amenizar a violência doméstica e a desigualdade de gênero no país.

 

Estudo realizado por: Dherik Fraga Santos

Orientadora: Rita de Cássia Duarte Lima

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